terça-feira, 14 de maio de 2013

Boa tarde à todos!! Hoje vamos ler uma crônica do Sr. Max Gehringer. Aproveitem a lição:



Vi um anúncio de emprego.

A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá à Seção 
de Serviços Gerais. E a empresa exigia que os interessados possuíssem - sem 
contar a formação superior - liderança, criatividade, energia, ambição, 
conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso,
ainda fossem HANDS ON.

Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía 
essa variada e incrível gama de habilidades, o salário era um assombro: 800 
reais. Ou seja, um pitico.

Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Ao contrário, é quase o

paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as

empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de
saltar para ser admitido.

E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da 
super-qualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico...
Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão 
bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora
de atendimento interno. E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, 
Gerente da Contabilidade.

Seu Borges: Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
Fabiana: In a hurry!
Seu Borges: Saúde.
Fabiana: Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho 
fluência em inglês. Aliás , desculpe perguntar, mas por que a empresa exige 
fluência em inglês se aqui só se fala português?
Seu Borges: E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
Fabiana: O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho

profundos conhecimentos de informática.
Seu Borges: Não, não. Cópias normais mesmo.
Fabiana: Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade.
Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das 
cópias que tiramos.Seu Borges: Fabiana, desse jeito não vai dar!
Fabiana: E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
Seu Borges: Como assim?
Fabiana: É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero
isso um desperdício do meu potencial energético.
Seu Borges: Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias.
Fabiana: Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
Seu Borges: Futuro? Que futuro?
Fabiana: É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda 
não aconteceu nada.
Seu Borges: Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu 
nada!
Fabiana: Sei. Mas o senhor é hands on?
Seu Borges: Hã?
Fabiana: Hands on....Mão na massa.
Seu Borges: Claro que sou!
Fabiana: Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vousair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram 
quando eu fui contratada.

Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:

1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têmas qualificações requeridas.

2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos 
porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão 
usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo 
prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo 
preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.

Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um 
montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível
que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação

Alfred Nobel.

Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas!

Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas eno meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento
do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, 
motorista da van.
E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha informática e 
energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação..... Só que não sabia 
nem abrir o capô.
Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o 
manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta.
Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 
minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns 
trocados, e ele foi embora feliz da vida.
Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresasmodernas torcem o nariz:

O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.

Autor: Max Gehringer

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